18.10.07

Mais um dia, demasiado tempo. Esta folha encontra-se aqui há demasiado, mas por mais que me esforce, nada me sai.

Estou completamente em branco. Branco.

Talvez seja esse o problema.
Talvez o problema seja ter-me esforçado demais, ou simplesmente achar que eu próprio não passo de uma folha em branco. E no entanto eu tenho esta urgência, esta ânsia de sujar as mãos em tinta, negra, espessa; e necessito saciá-la, necessito serenar esta faúlha que me rasga o peito e me consome vorazmente as entranhas.
Mas como? Como? Este branco que se apresenta nem branco é...é apenas uma folha hermética, desprovida de cores; não poderá, não pode servir para matar esta incomensurável sede,
Petrificado, vejo-a partir: Move-se pesadamente, em bloco, por cima desta mesa e não consigo detê-la. Parti o aparo na vã tentativa de a estacar, cravando-a na madeira. Assim ela segue o seu rumo, fechada sobre si própria, até se perder de vista.

Estúpido. O problema está em mim, fui eu que desviei o olhar até à linha que delimita o horizonte. O papel, esse, nunca saiu do seu lugar, era de todo impossível ter ganho vida própria.
Por segurança, agarro-o com as duas mãoes e contemplo a sua geometria uma vez mais.
Engraçado, por mais que sinta, e admito: não senti muito, que há instantes os meus pensamentos incorriam no ridículo, apercebo-me que de forma alguma me deixei de sentir confinado à imensidão do espaço desgarrado em torno deste, como se realmente tivesse ficado fechado por fora.

Impossível.

Sorrio: Sim é isto...é isto. É esta clausura sem verdadeiras barreiras que me atormenta e me quebra o raciocío ininterruptamente , percebo agora que é estritamente necessária a total comunhão com este conjunto ordenado de fibras, com esta amalgama de pigmentos e torná-los meus, deixar que eles tomem sentido, apoderando-se de mim.
E a relutância? A relutância é medo, e por enquanto, não encontro espaço nem na carne nem na fibra para tamanha falta de lógica.

Hoje, punhos partem janelas como bolas de papel.

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