Ontem, hoje, um dia.
Dei por mim a vaguear por uma parte da cidade que desconhecia. A bem dizer, nem me recordo como vim aqui parar. Confuso, olho em redor, e no entanto, tudo isto me parece familiar. Eu conheço estas ruas e os seus prédios, estas praças e vielas; contudo sinto-me perdido, como se cada pedra da calçada me tentasse desviar do meu caminho (Que caminho? Não vagueio eu?) e o alcatrão me quisesse para sempre no negro regaço do seu abraço constritor.
Sinto-me oprimido por estas paredes de betão, e este frio corta-me a respiração. Dou graças por não estar nevoeiro hoje; esse arranca-me o coração.
Que digo? Oprimido pelo betão? Mas como? Se este não se destaca das paredes e me vem encher os pulmões?
Sinto-me fatigado, sem energia. Prostrado, reconheço: São as gentes. São estes olhares que me cerceiam tangencialmente, e em toda a sua medida e tacanhez, me deixam gelado. Não obstante os corpos emanarem aparentemente calor da sua superfície, dou por mim a contemplar o vácuo, face após face. E que inebriante este pode ser!
Dir-se-ia que há muito de perdido nesta cidade, há algo de morto e decrépito que circula de olhos consumados e sem destino, como se algo tivesse definhado há muito.
Decerto que o que contemplo não ajuda em nada à subsistência fundamentada de algo tão banal como a esperança, secretamente contida no olhar de quem ainda acredita, de quem ainda vive no sentido mais lato do termo. Mas não, não é isto que serve de desculpa, o problema está em algo mais profundo, mais subreptício, menos evidente.
Fujo desta realidade, precipito-me na primeira porta aberta que encontro.
A intensidade luminosa aqui cega-me momentaneamente a vista e o olfacto é parcialmente destruído pelo cheiro a químico que paira no ar. Aqui tudo é êxtase e suspensão; vivem na expectativa, todos eles. Desde o mais enfermo e ressequido no seu leito, ao mais rubicundo e anafado aguardando (im)pacientemente num qualquer assento de plástico.
Clarões brancos ainda me toldam a visão e por momentos, sinto-me confortavelmente nauseado.
Algo embateu, toldado-me, e é tudo.
Recordo-me agora, e vêm-me à boca, como bílis, as palavras que saem em torrente.
Se há semântica que normalmente atribuo a vivência, essa é dualidade. Creio hoje que é algo intrínseco não só a mim, como a todo o tipo, mais ou menos integrado e definido de pessoa. Conquanto a sua vida se espelha nas suas entranhas, e esta se revolve com o amargo sabor a fel, por vezes a fel.
Bem sei que a utilização de tal palavra comporta uma redução e minimalismo tais, que tudo se torna demasiado cinzento aquando da sua invocação; há algo que na minha mente a torna demasiado parcial.
Na verdade, mesmo tendo presente a multiplicidade de planos de que as vidas são dotadas, ultrapassando em grande medida as duas dimensões que invoco, o facto é que tal insistência é propositada: se existe algo que no dia-a-dia que me torna carregado como a densa bruma, este é o exercício.
Dei por mim a vaguear por uma parte da cidade que desconhecia. A bem dizer, nem me recordo como vim aqui parar. Confuso, olho em redor, e no entanto, tudo isto me parece familiar. Eu conheço estas ruas e os seus prédios, estas praças e vielas; contudo sinto-me perdido, como se cada pedra da calçada me tentasse desviar do meu caminho (Que caminho? Não vagueio eu?) e o alcatrão me quisesse para sempre no negro regaço do seu abraço constritor.
Sinto-me oprimido por estas paredes de betão, e este frio corta-me a respiração. Dou graças por não estar nevoeiro hoje; esse arranca-me o coração.
Que digo? Oprimido pelo betão? Mas como? Se este não se destaca das paredes e me vem encher os pulmões?
Sinto-me fatigado, sem energia. Prostrado, reconheço: São as gentes. São estes olhares que me cerceiam tangencialmente, e em toda a sua medida e tacanhez, me deixam gelado. Não obstante os corpos emanarem aparentemente calor da sua superfície, dou por mim a contemplar o vácuo, face após face. E que inebriante este pode ser!
Dir-se-ia que há muito de perdido nesta cidade, há algo de morto e decrépito que circula de olhos consumados e sem destino, como se algo tivesse definhado há muito.
Decerto que o que contemplo não ajuda em nada à subsistência fundamentada de algo tão banal como a esperança, secretamente contida no olhar de quem ainda acredita, de quem ainda vive no sentido mais lato do termo. Mas não, não é isto que serve de desculpa, o problema está em algo mais profundo, mais subreptício, menos evidente.
Fujo desta realidade, precipito-me na primeira porta aberta que encontro.
A intensidade luminosa aqui cega-me momentaneamente a vista e o olfacto é parcialmente destruído pelo cheiro a químico que paira no ar. Aqui tudo é êxtase e suspensão; vivem na expectativa, todos eles. Desde o mais enfermo e ressequido no seu leito, ao mais rubicundo e anafado aguardando (im)pacientemente num qualquer assento de plástico.
Clarões brancos ainda me toldam a visão e por momentos, sinto-me confortavelmente nauseado.
Algo embateu, toldado-me, e é tudo.
Recordo-me agora, e vêm-me à boca, como bílis, as palavras que saem em torrente.
Se há semântica que normalmente atribuo a vivência, essa é dualidade. Creio hoje que é algo intrínseco não só a mim, como a todo o tipo, mais ou menos integrado e definido de pessoa. Conquanto a sua vida se espelha nas suas entranhas, e esta se revolve com o amargo sabor a fel, por vezes a fel.
Bem sei que a utilização de tal palavra comporta uma redução e minimalismo tais, que tudo se torna demasiado cinzento aquando da sua invocação; há algo que na minha mente a torna demasiado parcial.
Na verdade, mesmo tendo presente a multiplicidade de planos de que as vidas são dotadas, ultrapassando em grande medida as duas dimensões que invoco, o facto é que tal insistência é propositada: se existe algo que no dia-a-dia que me torna carregado como a densa bruma, este é o exercício.
1 comentário:
Fizeste me mesmo lembrar Dostoiewski no Crime e Castigo.
Adoro te ò tótó!
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