Hoje fiz um pequeno golpe num dedo enquanto remexia nos meus papéis.
Depressa o sangue pingou sobre as folhas e só o seu gotejar permitiu com que eu desse por isso. Fixei o meu olhar no corte fundo, afinal trata-se de papel, enquanto pensava o que fazer com o sangue que tudo tingia e subitamente este parou de cair.
Estranho.
Normalmente costuma demorar muito mais tempo a estancar a ferida do que demorou desta vez...parece que o meu dedo parou no tempo, nem avançando para a próxima gota a surgir nem retrocedendo para a última gota suspendida.
Franzo o sobrolho e eis que mais uma gota cai por cima do tampo da mesa, manchando-a.
Parece-me que me assustei por nada, foi apenas uma pequena imprevisibilidade: deixei-me surpreender por uma sequência de Fibonacci ditada pelo meu corpo, a qual não consegui prever.
Espera...Outra gota que não cai, mas desta vez sinto-a cá. E se este momento estancou no tempo? E se este momento for eterno? E se todos fossem eternos? Se existíssemos dentro de cada um deles, imutáveis, e apenas vivêssemos a sua sucessão? Chamar-se-ia isso vida? Deste modo esta gota nunca iria cair ou esta ferida nunca se iria abrir, eu nunca respiraria ou passaria apenas a vida numa expiração...é isso que a vida é? Uma grande expiração?
Não...não, não me quero perder por enquanto nestes pensamentos: concentro-me na ferida.
E se tudo fosse imutável num instante? Existindo este princípio, eu sou uno neste momento, e este momento, este instante, não tem passado nem reserva futuro.
Horror - sou um monólito. E no entanto um monólito tem vida.
E a chuva não me deteriora. Sou uma estátua da ilha da Páscoa, sou a sua mãe e aquela árvora fixa ao chão. Sou a sua raíz, a minha raíz, a nossa. E a gabardina de quem passa e a chuva que em mim é deflectida e cai no chão. Sou um charco, o coaxar de uma rã, o adejar de um mosquito. Eu sou malária, doença, morte. Sou vida e fluxo, sou um nado vivo-morto. E se não o fosse? Não sou momento nem sangue nem o tampo da mesa. Não sou ontem, nem fui hoje. Não fui. Não sou? Quem sou? Um monólito bem sei. Ou a chuva todavia?
Nunca soube quem fui, nunca tive passado. E no entanto esta gota que aflora por entre as arestas vivas da minha pele parece-me tão familiar. Ela já aqui esteve, sinto-o, mas esfuma-se. Sublimaram-na.
E sinto-me desaparecer...esfumo-me...esfumo-me nas nuvens de uma existência para regressar ao mar uno do conhecimento.
Depressa o sangue pingou sobre as folhas e só o seu gotejar permitiu com que eu desse por isso. Fixei o meu olhar no corte fundo, afinal trata-se de papel, enquanto pensava o que fazer com o sangue que tudo tingia e subitamente este parou de cair.
Estranho.
Normalmente costuma demorar muito mais tempo a estancar a ferida do que demorou desta vez...parece que o meu dedo parou no tempo, nem avançando para a próxima gota a surgir nem retrocedendo para a última gota suspendida.
Franzo o sobrolho e eis que mais uma gota cai por cima do tampo da mesa, manchando-a.
Parece-me que me assustei por nada, foi apenas uma pequena imprevisibilidade: deixei-me surpreender por uma sequência de Fibonacci ditada pelo meu corpo, a qual não consegui prever.
Espera...Outra gota que não cai, mas desta vez sinto-a cá. E se este momento estancou no tempo? E se este momento for eterno? E se todos fossem eternos? Se existíssemos dentro de cada um deles, imutáveis, e apenas vivêssemos a sua sucessão? Chamar-se-ia isso vida? Deste modo esta gota nunca iria cair ou esta ferida nunca se iria abrir, eu nunca respiraria ou passaria apenas a vida numa expiração...é isso que a vida é? Uma grande expiração?
Não...não, não me quero perder por enquanto nestes pensamentos: concentro-me na ferida.
E se tudo fosse imutável num instante? Existindo este princípio, eu sou uno neste momento, e este momento, este instante, não tem passado nem reserva futuro.
Horror - sou um monólito. E no entanto um monólito tem vida.
E a chuva não me deteriora. Sou uma estátua da ilha da Páscoa, sou a sua mãe e aquela árvora fixa ao chão. Sou a sua raíz, a minha raíz, a nossa. E a gabardina de quem passa e a chuva que em mim é deflectida e cai no chão. Sou um charco, o coaxar de uma rã, o adejar de um mosquito. Eu sou malária, doença, morte. Sou vida e fluxo, sou um nado vivo-morto. E se não o fosse? Não sou momento nem sangue nem o tampo da mesa. Não sou ontem, nem fui hoje. Não fui. Não sou? Quem sou? Um monólito bem sei. Ou a chuva todavia?
Nunca soube quem fui, nunca tive passado. E no entanto esta gota que aflora por entre as arestas vivas da minha pele parece-me tão familiar. Ela já aqui esteve, sinto-o, mas esfuma-se. Sublimaram-na.
E sinto-me desaparecer...esfumo-me...esfumo-me nas nuvens de uma existência para regressar ao mar uno do conhecimento.
1 comentário:
Wow... Ate de uma simples ferida no dedo provocada por uma folha consegues escrever mesmo que sejam simples suposições sobre a vida.
Eu gostava que o tempo parasse mesmo que por breves instantes.
Eu cá gosto daquilo que escreves. Muito.
És "grande" Ivo! =P
beijinho
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